Durante a passagem da mostra “100 Anos de Athos Bulcão”, o arquiteto, urbanista e professor Renato Cymbalista procurou investigar o trabalho de Athos Bulcão partir de um ponto de vista pragmático: qual foi o caminho do artista para legitimar-se como um criador consagrado? Para isso, apresenta ao público as seguintes questões, utilizadas como guia para o percurso não-linear entre as obras. Como conseguiu? Quais foram seus principais passos? Que tipo de interlocuções construiu para conseguir executar tantas coisas? Conforme Cymbalista procura elucidar, a biografia de um artista se foca sempre em suas criações, deixando de lado o modo como as coisas funcionam.

Athos Bulcão nasceu em uma família de intelectuais. Seu pai, Fortunato Bulcão, foi um comerciante, industrial, intelectual e, sobretudo, nacionalista: se preocupava com o desenvolvimento do país, com a industrialização. Em 1948, Athos ganha uma bolsa de estudos em Paris e, ao retornar ao Brasil, seu pai havia falecido sem deixar grandes heranças. Segundo Cymbalista, no começo da década de 1950, Athos percebe que não conseguiria viver de pintura e muda sua técnica artística. Nesse momento, também começa uma carreira de funcionário público, sendo admitido, em 1952, no serviço de documentação do Ministério da Educação e Cultura. 

Artes aplicadas

De acordo com o arquiteto, existem duas estratégias no trabalho de Athos Bulcão. A primeira delas refere-se à sua atuação no contexto das artes aplicadas: entre 1952 e 1958, Bulcão produziu design gráfico, ilustração e cenografia, e por meio dessa produção, buscou se legitimar, continuando a fazer um trabalho conectado às tendências internacionais. Em 1958, Bulcão é convidado por um de seus amigos, Oscar Niemeyer, para fazer um painel em Brasília, na Igreja Nossa Senhora de Fátima. O artista se muda para Brasília, onde morou até o final da sua vida, tornando-se o grande artista da cidade que, naquele momento, precisava de arte aplicada à arquitetura. Por ser uma capital, suas edificações deveriam ser requintadas, glamourosas, e o azulejo se aplicava bem a isso, ao mesmo tempo em que podia ser produzido rapidamente.

Durante a visita, Cymbalista apresenta com detalhes outras relações presentes entre a vida pessoal e o trabalho do artista, destacando  diferentes etapas e elementos importantes dentro da obra de Athos Bulcão. Entre esses elementos, destaca sua relação com os operários e a mão de obra, com o Estado e as obras públicas, sem, no entanto, esconder trabalhos realizados a contratantes privados e ainda algumas turbulências que marcaram o início de sua trajetória profissional.