No dia 15 de junho, o CCBB DF recebeu mais uma edição do Com a palavra, dessa vez em articulação com a exposição “A Beleza Sombria dos Monstros: 10 Anos de A Arte de Tim Burton”. Nessa edição, entretanto, tivemos um diferencial de grande relevância para o Programa CCBB Educativo – Arte & Educação: nossa convidada foi Renata Rezende, a primeira surda a mediar essa atividade. Renata é artista, surda, atriz, professora, performer e desenvolve trabalhos na área de cinema e teatro, além de participar do Movimento Surdo, com lutas pela educação bilíngue e os direitos dos surdos.

Ao longo do encontro, Renata trouxe ao público sua experiência como mulher surda e como artista, além de reflexões sobre representatividade. A atividade foi realizada integralmente em Libras, a língua de sinais brasileira, com tradução para o português. Desse modo, todas as informações e os contatos com os surdos eram feitos diretamente pela convidada, na sua língua materna.

Geralmente condicionados a dependerem sempre de um intérprete de Libras para terem acesso a espaços culturais, os surdos e surdas puderam, ao longo desse Com a Palavra, se perceber dentro de uma exposição sem entraves de comunicação. Diferentemente de outras edições, o evento teve a presença quase integral de surdos, e os ouvintes presentes estavam acompanhando algum amigo ou parente surdo, o que nos mostrou a importância da inclusão e da representatividade em ambientes culturais como uma estratégia para incentivar a presença de públicos diversos em suas atividades.

Em sua visita à exposição, Renata explorou a tridimensionalidade e a visualidade, associando os óculos 3D disponibilizados pela produção à tridimensionalidade da língua de sinais e à própria cultura surda. Assim como os óculos 3D, também os sinais da Libras atribuem outras dimensões às imagens. Se os óculos dão vida às obras, a sinalização dá vida aos discursos dos surdos. 

Buscando provocar reflexões sobre a importância dos estímulos visuais para a comunidade surda, a convidada comparou uma sala da exposição em que as luzes mudavam de cor continuamente à própria experiência no teatro, lembrando de situações em que as “deixas” para sua entrada em cena ou ainda para iniciar suas falas eram indicadas a partir da troca de luz. A mesma sala serviu também como oportunidade para o público refletir sobre os sentimentos que cada uma daquelas cores trazia, e pensar que, para além da monstruosidade aparente, o ambiente da exposição também podia ser percebido como um universo para se sensibilizar, se identificar e se reconhecer.

Participação e inclusão

Diante de participantes abertos e curiosos, a convidada apresentou algumas dinâmicas visando interagir com os participantes de modo afetuoso e individualizado. Para que os visitantes se expressassem, a convidada pediu para que eles transformassem as imagens da exposição em representações em língua de sinais, usando seus corpos como instrumentos. Um a um, eles compartilharam suas ideias sobre as imagens propostas, mostrando-se envolvidos pela estratégia de mediação. A partir dessa dinâmica, os surdos expressavam suas subjetividades usando a própria língua e efetivamente ocupavam aquele espaço. 

No final da visita, o grupo pôde conversar também com Maycon, arte-educador surdo que integra a equipe do CCBB Educativo DF, para estabelecer mais trocas quanto à exposição e às especificidades de Tim Burton, em um momento de incentivo para que aquele público voltasse a visitar o Centro Cultural. O reconhecimento dos participantes em relação à fala da convidada nitidamente tocou a equipe, fazendo com que o encontro ultrapasse a dimensão de uma conversa a partir da exposição e se estabelecesse como um momento de expressão e respeito à cultura surda.