Nascido em Sobradinho, no Distrito Federal, o rapper, cantor e escritor GOG mudou-se ainda criança para a cidade de Guará, onde teve início seu trabalho com o rap. GOG pertence ao universo do hip hop, e ao visitar as obras de Jean-Michel Basquiat ficou impactado com a semelhança entre seus caminhos. Dois moleques de quebrada, como ele fala, que partindo de vivências culturais periféricas, de seus modos próprios de fazer e da necessidade de se expressar, criaram novas formas de arte que alcançaram reconhecimento mundial.

O rapper percorre a exposição a partir de pontos que unem os dois, utilizando as obras do artista para contar episódios de sua história, sua trajetória no rap e na quebrada e, aos poucos, indo de encontro a questões de maior amplitude política e cultural a partir dessas vivências. Basquiat traz em suas obras a história da África, da diáspora, da tensão entre inserção-marginalização na sociedade em que viveu, do mesmo modo como o hip hop as coloca em suas letras, sejam Marcus Garvey, Malcom X, Steve Biko, Public Enemy, Racionais… E a inserção dessas histórias na arte nos (re)afirma sua existência, muitas vezes invisibilizada pelas narrativas oficiais. É justamente isso que a arte pode nos trazer, a liberdade de expressão formal é capaz de dar vida a narrativas outras, especialmente em contextos nos quais elas não são permitidas.

“Durante muito tempo no Brasil, cultura foi o livro mais alto da estante”, diz o rapper. As pessoas cultas eram aquelas da Academia Brasileira de Letras, dos locais de poder. Hoje já se criou entendimentos de que a cultura é formada pelas experiências pessoais de cada indivíduo, e pelo compartilhamento dessas experiências, de modo que todos somos produtores de cultura. Basquiat traz isso pra arte, assim como o rap levou para as ruas um movimento que transformou as comunidades, que reivindicam hoje o direito de serem elas mesmas, o direito de ocupar lugares diversos com a cultura da rua.