Celebrado anualmente em 2 de abril, o Dia Mundial de Conscientização do Autismo é uma data instituída pela ONU com o objetivo de divulgar informações sobre essa síndrome neuropsiquiátrica e reduzir a discriminação e o preconceito que a cercam. A fim de criar um espaço de reflexão sobre diferentes maneiras de lidar com o autismo, o Programa CCBB Educativo – Arte & Educação recebeu a professora, psicanalista e pesquisadora Izabel Tafuri na edição de abril do curso Transversalidades.

Especialista em autismo e outros transtornos do desenvolvimento psíquico, a pesquisadora defende uma nova forma de olhar para a síndrome, a partir de saberes diversos. “Durante muito tempo, os profissionais responsáveis por tratar pessoas autistas estavam condicionados a um sistema que os prendia às noções restritas da medicina clássica. Hoje em dia, esses mesmos profissionais estão cada vez mais dispostos a transitar por outros campos do saber para lidar com a saúde mental, principalmente a das crianças”, diz Izabel.

Em sua visão, esse novo olhar permite que áreas como a educação e a psicologia, além da medicina, colaborem para a compreensão do autismo em crianças e também para o seu acompanhamento. Dessa forma, o transtorno passa a ser entendido a partir da articulação entre diversos conhecimentos em constante cooperação e sem uma hierarquia pré-definida.

“Essa é uma postura visionária que tem como objetivo não só a evolução do ser humano, mas também da sociedade como um todo. A cultura transdisciplinar se propõe a explicar o que está ao mesmo tempo entre, através e além das disciplinas. O médico e o psicólogo, por exemplo, precisam estar dispostos a ouvir o que os professores, com quem a criança passa a maior parte do tempo, têm a dizer, e o contrário também deve acontecer”, exemplifica.

Múltiplos caminhos

Considerando que o autismo é uma síndrome pluricausal, a pesquisadora refuta a ideia de que o diagnóstico precoce é a único caminho possível para se ter um tratamento de sucesso. “Mesmo que houvesse apenas uma causa, não seria de grande ajuda. Um gene não é determinante da capacidade de evolução cognitiva de uma criança. O que os profissionais devem ter em mente é o que se pode fazer na atualidade”, afirma, buscando ampliar a visão geral sobre o autismo e seus caminhos de inclusão social.

Segundo ela, existem inúmeros casos de crianças que têm um desenvolvimento considerado “normal” na primeira infância e, mais tarde, passam a apresentar um comportamento desviante. Isso pode significar, por exemplo, que a criança criou vínculo com os pais, mas em algum momento passou ter sintomas associados ao autismo.

“Tachar essa criança como autista pode ser uma barreira para o seu próprio desenvolvimento. Ela merece, sim, mais atenção dos pesquisadores, mas, diferente de um bebê que desde o nascimento não apresentou o comportamento esperado, consegue se comunicar. Esses casos são os maiores motivadores de um olhar transdisciplinar, porque justificam que outras áreas do conhecimento podem ser tão ou mais importantes do que o atestado de alguma doença com indícios genéticos ou neurológicos”, comenta Izabel Tafuri.

A mimese como estratégia

Dentre as diferentes maneiras de identificar uma criança autista, Izabel Tafuri destaca o primeiro contato no consultório médico como uma situação determinante para o diagnóstico. Segundo ela, a grande maioria dos profissionais ainda não está disposta a realizar exames alternativos para compreender os pacientes. Dessa forma, quem em geral assume o diálogo durante a consulta são os pais, e a criança se torna coadjuvante no relato de seus próprios sintomas e comportamentos.

“Uma criança que apresenta sintomas de autismo, quando vai ao consultório, normalmente não responde aos estímulos e às perguntas do médico. A solução para isso é estar com a criança à moda dela. Se ela está deitada no chão, deitar no chão; se ela não está falando, ficar em silêncio. Por meio da mimese, da imitação dos gestos, ela vai se sentir parte de toda aquela situação”, defende.