Em setembro de 2021, o Programa CCBB Educativo – Arte & Educação realizou mais uma edição do curso Transversalidades, convidando na ocasião, a artista, curadora e pesquisadora Mônica Hoff. Durante o encontro, Mônica apresentou algumas investigações e projetos desenvolvidos nos últimos anos, chamando atenção ao entrecruzamento de suas práticas artísticas, curatoriais e educativas.

Mônica Hoff abriu o encontro comentando sobre os conceitos que compõem o título escolhido para sua apresentação: “Conhecimentos molhados, tramas de aprendizagem, pedagogias em público: imaginar é uma práxis”, e também sobre os autores e autoras que acompanham suas práticas e reflexões.

A convidada refletiu também sobre sua atuação transversal, que geralmente parte de um exercício curatorial atravessado por um pensamento educativo e artístico. Colocando-se como pesquisadora acima de qualquer relação institucional, ela defende com perseverança o lugar que construiu para si.

Conhecimentos molhados

Mônica Hoff discute o conceito de conhecimentos molhados, a partir da escrita do educador Paulo Freire (1921-1997). Tal referência aparece nos textos da publicação “Pedagogia dos sonhos possíveis”, de 2014, no qual se discute a valorização dos saberes que escapam à lógica da razão ocidental. O mesmo conceito é objeto de grande interesse para a pesquisadora, que igualmente defende um olhar atento aos conhecimentos que rompem com a institucionalidade.

Tramas de aprendizagem

Mônica investiga o conceito de tramas de aprendizagem a partir de discussões levantadas pelo pensador austríaco Iván Illich (1926-2002), conhecido por defender a necessidade de pensarmos sobre uma possível desescolarização da educação. Esse autor também acreditava na potência das redes de aprendizagem e no princípio da convivencialidade – ferramentas de autonomia do aprendizado muito importantes nos projetos que Mônica vem realizando.

Pedagogias em público

Utilizado pelo artista Ricardo Basbaum (1961) em seu texto “E Agora?”, escrito em 2002, o conceito de Pedagogias em público é outro que desperta grande interesse nas pesquisas de Mônica Hoff. Trata-se, na visão da pesquisadora, de uma potente ferramenta para materializar ideias, potencializar desejos e compartilhar saberes.

Em 1999, Ricardo Basbaum foi um dos coordenadores da iniciativa independente Agora – Agência de Organismos Artísticos, que expandiu as discussões sobre arte contemporânea em território brasileiro e inspirou uma geração de artistas-pesquisadores do país a ampliarem, por meio de suas práticas, os espaços de debate artístico.

Investigando esse conceito e inspirando-se na iniciativa de 1999 do artista Ricardo Basbaum, Mônica nos apresenta um projeto homônimo, elaborado junto a Fábio Tremonte e que reúne encontros de leituras e micro-residências em uma plataforma compartilhada de estudos, em rede social.

Imaginar é uma práxis

Após apresentar algumas de suas principais referências, Mônica Hoff compartilhou conosco de que maneiras, em sua perspectiva, se dá o encontro entre essas referências teóricas e suas práticas, muitas vezes voltadas à construção de projetos. A convidada entende que seguir as perguntas que surgem no processo se apresenta como um importante método em suas pesquisas, enquanto seu pensamento poético será a materialização, a ocupação que ela poderá erguer no campo da vida.

Terminamos o encontro, refletindo sobre nossa atuação no campo das artes e sobre algumas coisas que por ele atravessa, como a mediação, a pedagogia, o exercício curatorial, enfim, práticas do nosso cotidiano que precisam de atenção para não reproduzir lógicas hegemônicas e de opressão.