Em fevereiro de 2020, durante uma edição do curso Transversalidades, a arquiteta e professora Marcela Tokiwa propôs aos participantes do Programa CCBB Educativo – Arte & Educação uma discussão sobre a museografia de exposições a partir de uma perspectiva histórica e arqueológica. O encontro reuniu professores e educadores, além de outros públicos interessados, e ocorreu em ocasião da exposição “Egito Antigo – Do cotidiano à eternidade”, então em cartaz no CCBB SP.

“Enquanto seres racionais, nós, humanos, carregamos uma curiosidade natural de descobrir de onde viemos e quais foram os fatores que nos transformaram no que somos hoje”, comenta Marcela, que atualmente trabalha na organização e conservação do acervo e reserva técnica na Fábrica de Artes Marcos Amaro (FAMA), em Itu, interior de São Paulo. “O trabalho do arqueólogo, portanto, é desvendar esses e outros mistérios a partir de pequenos fragmentos que contam a história dos povos.”

A palavra arqueologia, cuja origem etimológica vem de “arqueo” (antigo), e “lógos” (estudo), remete a uma ciência que estuda as sociedades, tanto as que ainda existem quanto as extintas, principalmente a partir de vestígios materiais, sejam objetos móveis ou imóveis, bem como de intervenções no meio ambiente realizadas pelo ser humano. Marcela Tokiwa explica que essa área do conhecimento é de suma importância para o trabalho desenvolvido pelas instituições museais.

“Ainda que minha formação seja como arquiteta, tenho atuado em museografia. Nesses trabalhos, fica muito clara a importância dos arqueólogos para que, dentro do museu, nós possamos saber com o que estamos lidando. No caso de uma exposição como a ‘Egito Antigo’, por exemplo, a equipe que trabalha na montagem precisa estar muito atenta aos detalhes que todas essas peças expostas possuem, não só por uma questão de fidelidade à história, mas também por respeito ao patrimônio”, comenta ela.

Marcela afirma que o trabalho de museografia envolve etapas tão distintas quanto organizar, catalogar, apresentar e conservar os acervos e reservas técnicas que as instituições possuem. “Ainda que seja uma área que parece bastante específica, ela na verdade envolve uma integração multidisciplinar. Assim, atuam nela conservadores, restauradores, museólogos, arquitetos, designers, marceneiros, seguranças, educadores etc.”, pontua.

O trabalho na exposição

Levantar uma exposição, nos lembra Marcela, requer não só o trabalho de curadoria ou seleção de obras. Trata-se, pelo contrário, de um processo que aciona diferentes campos do conhecimento. Geralmente articulados por uma coordenação ou produção executivo, esses campos se reúnem em mostras cujas temáticas muitas vezes se amparam em propostas teóricas específicas.

“Compreender a narrativa proposta é crucial, conhecendo as obras e objetos, suas características físicas e imateriais. O objeto, por si, diz muito pouco. Ele é um fragmento da história e está imerso dentro de um sistema de significado, o que o acaba tornando interessante. Portanto, a força imaterial que ele carrega muitas vezes é mais forte do que a própria materialidade”, explica.

“Ainda assim, a presença do objeto é o que reitera seu significado, portanto é preciso ter extremo cuidado na hora de lidar com os suportes que vão ser usados em cada exposição. Cada um possui uma reação diferente, então é super importante conhecer aspectos de conservação e manutenção, estudar suportes secundários, pesquisar e experimentar materiais.” Segundo ela, moedas podem oxidar em determinadas superfícies e ambientes, por exemplo.

Além dessas escolhas, os processos de montagem ainda requerem uma reflexão direcionada às características do espaço expositivo, que deve levar em conta aspectos de acessibilidade física e comunicacional. “Todos esses aspectos são muito importantes para a museografia. Eles representam a sistematização da ideia da exposição, que em geral parte de um conceito para se transformar em algo físico, num lugar onde as pessoas podem circular, parar, ler, observar, sentar. Tudo isso é pensado junto de maneira a aperfeiçoar o espaço para que ele tenha determinada configuração”, explica, fazendo referência a textos explicativos e recursos arquitetônicos que viabilizam o acesso amplo do público às instituições e seus conteúdos.