Se você já se sentou na sala escura de um cinema e assistiu a um filme de animação, é possível que tenha se perguntado como aqueles desenhos ganharam movimento. Ainda que os flipbooks e o stopmotion sejam técnicas amplamente conhecidas, o trabalho de dar vida às ideias que nascem no papel permanece uma incógnita. Motivada pela mostra “DreamWorks Animation – A Exposição: Uma Jornada do Esboço à Tela”, a edição de junho do curso Transversalidades recebeu Antonio Fialho para um bate-papo sobre o mundo das animações.

Professor do curso de Cinema de Animação da Escola de Belas Artes (EBA) da UFMG, ele acumula experiência em produções publicitárias, bem como nos filmes “Spirit – O Corcel Indomável” (2002) e “Sinbad – A Lenda dos Sete Mares” (2003), ambos realizados pelos estúdios DreamWorks. “Animação é a arte dos movimentos que são desenhados. Não se trata da ilustração do desenho singular, mas de uma sequência que cria significado a partir do conjunto de imagens”, explica.

Considerando um recorte historiográfico que parte desde os anos 1910 até 1960, Antonio Fialho mostrou ao público do CCBB BH a evolução ocorrida na produção de filmes animados, destacando como pequenas alterações no desenho dos corpos dos personagens são importantes para deixar a impressão de movimento mais verossímil.

“O termo cartoon já era empregado para falar sobre o trabalho daqueles desenhistas que misturavam o humor com o burlesco. É natural, portanto, que se agregue a palavra animação a ele, já que os artistas responsáveis por esse tipo de produção se interessavam pela projeção aparente de movimento. Com o advento do primeiro projetor, os profissionais dessa área passam a ter a vontade de ver seus desenhos em movimento”, conta.

Primeiros passos

Segundo o professor, a estrutura do movimento como o conhecemos hoje só foi possível porque os estúdios da Disney investiram no estudo empírico do comportamento corporal de pessoas e animais em diversas situações para reproduzi-lo nos filmes. “A partir daí, as ações passam a respeitar não somente a face externa desses seres, mas sobretudo sua estrutura interna, a maneira como se movem e realizam os movimentos”, conta.

Posteriormente, também o estudo dos objetos tornou possível representá-los de uma maneira mais fiel à realidade. Uma bola, por exemplo, quando arremessada contra o chão, sofre uma deformação rápida que, a olho nu, é imperceptível. Estudos como o da Disney, que consistiam basicamente em gravar diversos vídeos da trajetória da bola e reproduzi-los em câmera lenta, possibilitaram perceber a maneira como os objetos se comportam quando em movimento.

“A ideia da verossimilhança foi perseguida constantemente pelos animadores, ainda que o objetivo maior não tenha sido produzir um material que coincide inteiramente com a realidade. Se esse fosse o caso, a melhor solução seria produzir filmes live-action sem a intervenção das animações – o que gera uma série de debates e discussões, até mesmo estéticas”, comenta.

Anima-ação

A etimologia da palavra animação traz em si a união das palavras anima e ação. Anima significa alma e, portanto, junto ao sufixo ação, pode remeter à alma da ação, à alma do ato, do movimento. No cinema de animação seria possível, dessa maneira, pensar a alma dos personagens a partir os trejeitos que eles apresentam.

“A personalidade dos personagens é sugerida quando eles se movem ou repousam. O movimento normalmente precisa de uma motivação óbvia da figura, e é isso que o faz acontecer. Em alguns casos, não muito raros, conseguimos ler o personagem por um simples gesto. As formas, neste caso, estão a serviço do movimento, e a visualidade vem como uma etapa final, consecutiva. Por isso, em algumas animações mudas conseguimos entender a própria trajetória do personagem sem que ela seja mostrada ou narrada; trata-se da memória corporal criada que impõe ao personagem a maneira como ele é”, comenta Antonio Fialho.