“Em caso de despressurização da cabine, máscaras de oxigênio cairão automaticamente. Puxe uma das máscaras, coloque-a sobre o nariz e a boca, ajustando o elástico em volta da cabeça, e respire normalmente. Somente depois de colocar a própria máscara, auxilie a criança ao seu lado”. Na edição de abril do curso Transversalidades do Programa CCBB Educativo – Arte & Educação, a fonoaudióloga e educadora parental Adriana Fernandes recorreu à típica locução usada em aviões para explicar o trabalho que desenvolve com crianças e jovens autistas.

Para ela, auxiliar uma criança autista em desenvolvimento deve necessariamente envolver um adulto que esteja bem consigo mesmo e, sendo assim, disposto a fazer as mais diversas concessões. “Seja qual for a perspectiva da criança, o adulto só vai receber uma resposta adequada se souber se posicionar bem o bastante como um exemplo a ser seguido. E isso depende de cada um”, analisa.

O principal método de cuidado, portanto, deve ser o encorajamento por meio do afeto, ou seja, “criar espaço para que a criança possa agir com o coração”. Segundo a fonoaudióloga, a ideia de que toda característica típica do autismo precisa ser mudada é uma falácia, assim como devem ser superados os tratamentos tradicionais oferecidos aos autistas. “Temos que potencializar a maneira como essa criança é abordada, para que isso aconteça de forma mais natural e próxima. É preciso que ela sinta o adulto como parte de seu universo.”

Disciplina positiva

A esse respeito, a Disciplina Positiva é uma grande aliada do trabalho clínico desenvolvido por Adriana Fernandes. Entendida como um programa cujo objetivo é encorajar crianças e adolescentes a tornarem-se responsáveis, respeitosos, resilientes e com recursos cognitivos para solucionarem problemas do cotidiano, essa metodologia tem como principal característica buscar integrar a criança em seu próprio processo de aprendizagem de forma natural e saudável.

“De onde tiramos a ideia absurda de que para fazermos uma criança agir melhor, primeiro ela precisa se sentir pior? Os métodos que envolvem um motivador externo fazem com que ela nunca esteja satisfeita consigo. Portanto, ajudá-la a se sentir conectada, encorajar o respeito mútuo, ter a consciência de que tudo é aprendizado e empoderá-la para as decisões que a vida traz é fundamental. Trata-se de um processo que ela mesma precisa desenvolver, de dentro para fora”, defende.

Visualidades

Aproximar-se das crianças e dos jovens autistas por meio de brincadeiras e elementos visuais é, segundo Adriana, uma saída bastante usada e que gera sucesso no processo de aprendizagem. “Quanto mais elementos visuais, mais esse processo chama a atenção das crianças, e é muito importante que façamos esse tipo de associação. Isso ajuda a crianças a se expressarem, e elas só vão entender os códigos se os usarmos com elas”, explica.

No centro de toda essa discussão, afirma a educadora, está o afeto, que vincula o desenvolvimento psíquico às formas de compreensão alcançadas por crianças e jovens autistas. “Não se trata de fazer demais ou de menos pela criança. Se a ideia é empoderar, ela precisa ter os desafios, mas principalmente o suporte. Ela tem que poder resolver esses desafios, que precisam ser vistos como uma oportunidade de aprendizado”, conclui.