Convidada para conduzir o curso Transversalidades a partir de um paralelo com a exposição do artista negro estadunidense Jean-Michel Basquiat, a professora e pesquisadora Rosália Diogo aborda o tema do multiculturalismo a partir de um viés crítico. Como é praticado o multiculturalismo? Como lidamos e o que fazemos quando tomamos conhecimento da cultura do outro? 

O multiculturalismo é comumente definido como a presença de expressões culturais de diferentes povos em um mesmo país. Desse modo, o Brasil é um país multicultural. A partir disso, Rosália questiona: “Qual a nossa capacidade de ter uma visão crítica sobre o multiculturalismo?”. E alerta: é preciso diálogo para que o reconhecimento da cultura do outro faça sentido.

Em 2003, o governo brasileiro sancionou a lei 10.639/03, que instituiu como obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira e africana no ensino fundamental, representando um marco histórico da luta antirracista que gerou transformações na política educacional brasileira. Em 2018, a lei completou 15 anos e os desafios para sua plena implementação ainda podem ser notados.  

A própria necessidade da lei mostra o quanto ainda somos uma sociedade racista, dominada pelo paradigma do homem branco. Quantos de nós não conhecemos  a lei? E sobre a cultura afrodescendente? Ainda é um desafio levar a proposta de culturas de origem não-eurocêntrica para as salas de aula. A proposta de Rosália Diogo é levantar ideias sobre como a obra de Basquiat pode invadir o espaço da escola, colaborando para o aprendizado e a discussão de questões pautadas pela cultura e história dos povos afro-brasileiros. 

Como pensar arte e cultura africanas?

A arte africana tem uma identidade própria que influenciou e influencia a arte feita em outras partes do mundo, especialmente durante o século XX. Por exemplo, entre os grandes ícones da pintura, artistas como Pablo Picasso, Amadeo Modiglianni e Henri Matisse, assim como muitos outros, foram fortemente influenciados pela cultura vinda da África.

Uma pesquisa sobre a História da Arte do Brasil mostra que os primeiros registros da mulher negra na arte brasileira – representadas por artistas brancos – é da época do Modernismo. 

E os artistas negros, quem são?

O tema da cultura negra e afrodescendente no Brasil é ainda marginalizado. Podemos dizer que, sobretudo nas últimas duas décadas, o tema tem sido mais debatido e surgem importantes protagonistas para ocuparem seus “lugares de fala”, expressão introduzida em nosso cotidiano como reflexo de uma intensa luta do feminismo negro no Brasil. Entre as referências citadas por Rosália Diogo, figuram intelectuais e artistas negras como Conceição Evaristo, Janaína Barros, Renata Felinto, Rosana Paulino, Sônia Gomes e Djamila Ribeiro.