Nesta edição do Múltiplo Ancestral, somos convidados a viajar pelas paisagens do norte de Minas Gerais a partir dos toques de viola e das memórias de Paulo Freire em torno do sertão da cidade de Urucuia. Inspirado pela obra literária “Grande Sertão: Veredas”, do escritor Guimarães Rosa, nosso convidado violeiro e contador de histórias, se instala em uma pequena cidade no sertão de Minas, onde percorre o rio Urucuia, importante afluente do São Francisco. 

A palavra urucuia, que dá nome a esse importante rio, tem sua origem no tupi-guarani e deriva da palavra urucum, planta nativa da região que produz uma tinta vermelha intensa, muito usada por povos indígenas em pinturas corporais.

Durante o inverno, esse rio possui águas claras e esverdeadas. No verão, em razão do tempo chuvoso e das enchentes, as águas ficam vermelhas – da cor do barro. 

O rio faz parte do cenário mágico da obra “Grande Sertão: Veredas”, e é pela vivência nessa região, por meio de uma escuta atenciosa da natureza, que Paulo Freire dá voz às suas histórias pelos sons da viola.

Escuta atenta à natureza

O violeiro conta que aprendeu o ofício dos modos de viola com seu mestre Manelim: no fim da tarde, após o trabalho duro na roça, o mestre Manelim convidava Paulo a perceber os fenômenos da natureza, incorporando os movimentos e os sons dos animais como inspiração para suas composições.

Em meio a saudosas lembranças da roça urucuiana com mestre Manelim, Paulo Freire nos convida a vivenciar pelos sons da viola uma escuta atenta dos acontecimentos da natureza.