No feriado do dia 20 de janeiro, dia de São Sebastião, padroeiro da cidade do Rio de Janeiro, recebemos Lazir Sinval, Anderson Vilmar e Luana Ferreira, integrantes da Casa do Jongo da Serrinha para um encontro do Múltiplo Ancestral. A proposta era uma oficina de percussão com objetos do cotidiano, ao longo da qual foram introduzidos ritmos folclóricos como jongo e maracatu.

A atividade agregou não só as crianças, mas também suas famílias e outros adultos que chegaram nas salas do Programa CCBB Educativo – Arte & Educação, no CCBB RJ. Para a experimentação dos ritmos, Luana, recreadora cultural da Casa do Jongo, nos ensinou alguns passos e separou o grupo em três filas. Cada fila representava uma figura importante para a Casa do Jongo: Vovó Maria Joana, Mestre Darcy e Tia Eunice – e deveria reproduzir um dos passos recentemente ensinados, transformando nossos corpos em uma música coletiva, ao som da percussão no fundo.

Na sequência, Anderson nos apresentou alguns instrumentos de percussão. Após distribuir caixas de plástico e baldes de alumínio para as crianças, nos ensinou, pouco a pouco, como realizar batuques, prontamente complementados pelas palmas dos adultos presentes na atividade. Lazir, cantora e também percussionista, nos mostrou algumas cantigas e pontos que contam a história da tradição jongueira. Junto ao que aprendemos anteriormente, tendo os movimentos do corpo e a marcação dos pés guiados pelo som do atabaque, cantamos juntos, em roda, e finalizamos a atividade com muito axé.

A brincadeira como resgate cultural

Durante uma conversa no final da atividade, Luana contou que trazer os nomes de Vovó Maria Joana, Mestre Darcy e Tia Eunice faz parte de um trabalho de resgate cultural, visando transmitir às crianças, a partir da brincadeira, elementos de sua própria história e da herança cultural do Jongo. Vovó Maria Joana, uma das jongueiras mais velhas da Casa de Jongo da Serrinha, além de parteira e rezadeira, era mãe do Mestre Darcy e de tia Eva, também jongueira.

Segundo Luana, antigamente só as pessoas mais velhas, também conhecidas como “’cabeças brancas”, podiam dançar o jongo. Isso acontecia nos quintais e terreiros das casas, em épocas de festas para alguns santos. Naqueles tempos, Vovó Maria Joana, como era mãe de santo, rezava a ladainha, e as crianças da comunidade apenas assistiam. Depois disso, o espaço era restrito aos adultos, e as crianças deveriam ir dormir. Como tinham muita curiosidade sobre o jongo, entretanto, muitas delas furavam o estuque das casas, espiavam por pequenos buracos nas paredes, e na manhã do dia seguinte, reproduziam o que os jongueiros faziam.

Com o tempo, os jongueiros mais velhos foram morrendo, e a vovó Maria Joana falou para seu filho, Mestre Darcy, que deveriam ensinar os jovens a dançar jongo, porque sem eles o jongo ia acabar. Foi assim que começou a Escola de Jongo, onde as crianças mais novas começaram a aprender. Luana contou ainda que foi Mestre Darcy quem levou o jongo aos palcos, pois antes disso a prática ficava reservado aos terreiros. Foi, afinal, a importância de preservar e dar continuidade à tradição jongueira que possibilitou a crianças e adultos a oportunidade de conhecer, durante o encontro no CCBB RJ, uma cultura ancestral sobre a qual muitas e muitos nunca tinham ouvido falar.

Louvação e fé

(música de Lazir Sinval e Marquinhos de Oswaldo Cruz)

Oh vem Jongueiro
da Serrinha rosar
oh vem Jongueiro
de Piraí e Ipirá
Sou candongueiro
me chamo ‘tenho que ir’
Oh vem Jongueiro
Santa Rita, Bracuí

Vim à São José dos Campos
parava em Tamandaré
Iracema e Vassouras
e o Quilombo São José
em Campinas tenho dito
que Ribeiro tem macete
fui dançar em Porciúncula
acabei lá em Piquete

Em Cachoeiro
de Itapemirim
vi Carangola
dançando assim
Dançando jongo
negro Bantu
Jongo em Pádua
é caxambu

Ah eu vou firmar meu ponto
abrir terreiro,
Ah eu vou firmar meu ponto
auê Jongueiro

Para saravá tambor primeiro
tem que ter fé
Para cair folhas no terreiro
tem que ter fé