Dia Mundial do Meio Ambiente

O termo paisagem está relacionado a tudo o que os sentidos captam do ambiente, e não somente à percepção visual: também compõem esse cenário os sons, os cheiros, os elementos estáticos e os dinâmicos. Sendo assim, quando pensamos na paisagem de uma metrópole como São Paulo, por exemplo, inevitavelmente os prédios vêm à nossa mente. Mas tão importantes quanto eles são os elementos vivos e em movimento: as pessoas, os meios de transporte, os cheiros de comidas e os sons resultantes dessa sinfonia urbana. Nesse sentido, o termo “paisagem cultural” corresponde a uma experiência bastante ampliada, pois diz respeito à intervenção e à produção cultural humana sobre o ambiente.

Em celebração ao Dia Mundial do Meio Ambiente e como parte do projeto CCBB Educativo – Patrimônio & Memória, realizamos uma conversa aberta sobre paisagens culturais e outros tipos de paisagens que integram nossa sociedade, pensadas a partir do nosso patrimônio ambiental. Por meio de aspectos históricos, econômicos e sociais, experimentamos unir diferentes elementos que nos permitem criar variados retratos de nossas cidades.

Para abrir essa conversa em torno das nossas relações com o meio ambiente, pensamos em uma atividade prática realizada a partir da criação de cartões postais. A pergunta ativadora, por sua vez, foi a seguinte: “Qual foi a última vez em que você recebeu ou enviou um cartão postal?”. Esse simples objeto, afinal, é em si um registro documental. Além de constituírem-se como um meio de comunicação, os cartões guardam memórias afetivas de seus emissores e as transmitem para quem os recebe. Ao mesmo tempo em que um cartão postal traz pontos turísticos de uma cidade, mostrando suas belezas naturais e culturais, ele também direciona mensagens voltadas às nossas relações interpessoais.

Neste período de pandemia, em que as viagens e o contato com o mundo externo têm sido restringidos, temos ficado mais tempo em casa – e frequentemente usado esse período para repensar nossas relações com a cidade. Se, antes, os cartões postais nos mostravam diferentes perspectivas do mundo e das cidades, que imagens estampariam um cartão postal hoje em dia, tendo como perspectiva a vista de nossas janelas?

A comunidade em interação com a natureza

Em nosso convite ao público, disparamos algumas flechas sobre o diálogo ambiental nos dias atuais. Trazendo como referências falas de ativistas ambientais e criações de artistas contemporâneos, formamos um debate sobre o que nos contam as camadas da paisagem presente no entorno de cada participante do encontro. O que havia antes, nestes espaços, e por que eles se constituem da forma que estão hoje? E, ainda, o que desejamos para essa paisagem e para todos os elementos que a habitam?

Durante a conversa, falamos também sobre as formas de interação entre diferentes comunidades e a natureza, entendendo que existem relações que ultrapassam os modelos de exploração e consumo, observadas principalmente nas grandes cidades e nas áreas onde atuam grandes empresas cujos negócios, de forma comumente insustentável, utilizam recursos naturais em suas cadeias de produção.

Surgiu, então, um debate sobre os ecomuseus: museus criados e mantidos pelas comunidades onde se situam, cuja ênfase recai justamente sobre o trabalho comunitário e o desenvolvimento do território. Nesses contextos, muitas comunidades se relacionam de modo intenso com o meio onde vivem, promovendo a preservação de seus patrimônios materiais e imateriais, naturais e culturais.

Nossas relações com o meio ambiente se ressignificam

Cercados pelo afeto que envolve essas narrativas, os participantes da conversa também partilharam conosco, a partir de imagens em vídeo, um pouco dos espaços onde vivem. A educadora Alzira, por exemplo, nos mostrou a própria varanda e as ruas ao redor de sua casa. Passo a passo, ela nos guiou pela cidade de Brasília e contou que, ao oferecer aulas em áreas livres e espaços comunitários de lazer, tenta estimular em seus alunos da educação infantil esse mesmo contato com o bairro. 

Mais adiante, a professora Estela foi quem nos mostrou o cenário urbano visto através de sua janela. Como pesquisadora da educação e professora de geografia, ela também nos ofereceu uma perspectiva ampliada sobre os sentidos da paisagem, apontando a algumas possibilidades de vivê-la de forma mais harmônica nas grandes cidades – e acrescentando à discussão ambiental aspectos relacionados a debates sociais e políticos.

Depois de ouvir e compartilhar histórias e cenários, passamos à etapa de criar nossos próprios cartões postais, dedicando essas imagens, histórias e reflexões a alguém querido, fosse a si ou a alguém que pudesse encontrar a mensagem no futuro.

Ao olharmos pela janela, afinal, temos sempre um recorte do lugar onde vivemos. Mas o que isso nos diz sobre esse território e sobre transformações que ocorreram ali? A verdade é que, a cada vez que olhamos, temos uma nova paisagem, entendida justamente a partir da relação entre diversos elementos. Desse modo, concluímos mais adiante, podemos pensar nas paisagens como registros de instantes.
Ao longo da conversa sobre o Dia Mundial do Meio Ambiente, compartilhamos, em suma, nossos cotidianos e memórias a partir de cartões postais. Para isso, criamos um repositório coletivo que pode ser acessado no link ao lado. 

E você? Há alguma paisagem que gostaria de compartilhar conosco? Caso queira convidar outros e outras visitantes à paisagem da sua janela, sinta-se à vontade para adicionar o seu postal a essa galeria virtual coletiva e colaborativa.