Muitos de nós têm contato com livros desde a infância, quando eles costumam servir como material de apoio e suporte para o processo de aprendizagem. Em geral, no entanto, sempre recebemos esses livros prontos, apenas para consumir seus conteúdos. Mas e se pudéssemos criar um livro com imagens produzidas por nós mesmos?

Os nossos corpos, por outro lado, nos acompanham por todos os momentos da nossa vida, fazendo com que muitas vezes não reparemos neles, pois os vemos e os sentimos todos os dias. Por exemplo: já aconteceu de você se machucar em um dedo e perceber, só depois do machucado, a importância daquele dedo?

Pois tendo principalmente livros e corpos como pontos de partida, a programação do CCBB SP para o Dia das Crianças contou, em outubro de 2019, com a participação especial do ateliê “Libélula: livros com | e | para crianças”, voltado à apropriação e experimentação de múltiplas linguagens por meio das quais podemos nos expressar. O projeto é realizado pela arte educadora, atriz e especialista em engenharia de papel Liana Yuri e pela arquiteta, designer e especialista em projetos editoriais Maria Carolina Sampaio.

Experiências e apropriações

Ao longo da atividade, a apropriação se deu a partir de um convite a testar diferentes usos e formatos que uma folha de papel sulfite pode proporcionar, assim como lançar um olhar diferenciado para partes do nosso corpo. A partir de então, fomos convidados a pensar em como podemos transformar os nossos corpos em conteúdo para um livro.

Para tanto, o ateliê Libélula montou uma “grafiqueta”, estrutura onde aconteceria todo o processo gráfico, contando com duas impressoras em papel térmico, duas impressoras convencionais e um espaço dedicado à confecção e à montagem dos livros. A atividade contou ainda com folhas de papel sulfite azul, previamente cortadas ao meio, além de cola, canetinha e, mais importante, os corpos dos participantes. O processo teve início a partir de uma conversa entre as convidadas e os educadores, tendo como intuito instigar nossos olhares para os próprios corpos, nos levando a considerar detalhes que muitas vezes passam despercebidos – e, a partir daí, explorar esses detalhes.

No momento seguinte, molduras pré-fabricadas foram colocadas à disposição do público, e partir dessas molduras pudemos experimentar diferentes maneiras de focar nossos olhares. E conforme orientação das convidadas, escolhemos seis partes do corpo e realizamos os registros fotográficos desses fragmentos usando nossos próprios dispositivos e as molduras, caso quisessem. Nos casos em que algum integrante do público não tinha acesso a dispositivos fotográficos, os tablets usados pelos educadores e educadoras foram disponibilizados para que todos os públicos pudessem participar da atividade.

Os registros foram, então, enviados para Maria Carolina, e ela se responsabilizou em produzir a impressão das imagens no papel térmico – o mesmo usado para a impressão de cupons fiscais em estabelecimentos de vendas, como supermercados e lojas em geral. Depois de impresso, cada conjunto de seis fotos foi dobrado de acordo com a lógica da publicação, criando três páginas de frente e verso, com uma imagem em cada face das páginas. As impressões foram, então, encaixadas na capa, construída a partir da folha sulfite azul, de modo a criar um pequeno livro para cada participante da atividade.

Ao experimentar o uso do papel focando os nossos olhares para o nosso próprio corpo, pudemos vivenciar o fazer artístico de uma forma diferente do comum. Ao se apropriar de telefones celulares como ferramentas e da arte impressa como referência para esse fazer, podemos ampliar nossas perspectivas sobre as múltiplas possibilidades de usar as tecnologias atuais como estímulos à experimentação artística.