Para celebrar o dia da mães, em maio de 2019, o Múltiplo Ancestral
recebeu a Escola de Benzedeiras de Brasília, grupo que se apresenta como um movimento de amor e resgate de sabedorias ancestrais de cura e conexão com a natureza, retomada de sentidos e conhecimentos  do corpo e da energia. Espaço de compartilhamento e troca de saberes de forma essencialmente oral, a Escola é também guardiã, junto à comunidade local, de uma horta de plantas medicinais situada na Asa Norte da cidade.

Conduzida por Maria Bezerra e suas companheiras, a ação “Benze que Passa! – Oficina de resgate da sabedoria ancestral da mulher” funcionou como um círculo de vivências e partilhas de saberes, uma roda de mulheres – e homens – para um aprendizado coletivo sobre plantas e seus poderes para equilibrar e reenergizar pessoas e ambientes por meio do benzimento. A atividade teve início com uma roda de abertura, na qual os participantes se apresentaram, honrando a própria ancestralidade feminina por meio dos nomes de suas mães e avós, sucedida de uma oração coletiva para a grande mãe natureza.

Maria Bezerra falou sobre a importância da oralidade e o funcionamento da Escola de Benzedeiras. “A tradição das benzedeiras, dos raizeiros e das parteiras é uma tradição oral. Nosso propósito é manter esse conhecimento circulando, e cada um de nós, que o tem, é responsável por mantê-lo vivo”, ressaltando a plena possibilidade de que todos invocassem suas capacidades de benzedeiras e benzedores, por vezes recorrendo às próprias avós.

Etimologicamente, a palavra portuguesa “benzer” vem do latim “benedicere”, que significa “abençoar” e “dizer bem”. “Dizer bem” talvez se entenda como fazer bem, mas tendo como instrumento do bem a palavra. Sob essa perspectiva, as benzeduras que geralmente escutamos podem ser entendidas como orações, palavras que pedem a proteção divina para a pessoa que está a ser benzida. Entretanto, conforme lembra o antropólogo João Baptista Borges Pereira, quando se considera o território brasileiro, o ato de benzer guarda dimensões históricas que ampliam o sentido da proteção invocada. “No Brasil, a benzedeira passa elementos sincréticos, misturados com influências indígenas e africanas, ligada às influências portuguesas”.

Saberes das plantas

Mais adiante, as benzedeiras se revezaram ao compartilhar o próprio conhecimento sobre os saberes de algumas ervas posicionadas no centro da roda: boldo, lavanda, arruda, guiné, folhas de mangueira, manjericão e alecrim. As participantes da roda foram convidadas a refletir sobre o ato de benzer, inaugurando-se, então, um novo espaço para a partilha de memórias afetivas sobre o benzimento, prática cujo princípio deriva da crença de que as fraquezas e doenças físicas são causadas por energias nocivas que nos atacam no plano espiritual. “Se você usa alecrim para acordar, e lavanda para dormir, não falta mais nada”, recomendou uma das participantes do encontro.

A partir desses saberes compartilhados, referentes ainda aos modos de usar cada erva, percebemos que, mesmo com o contínuo desenvolvimento e investimento da indústria farmacêutica, as ervas medicinais nunca desapareceram: elas sempre estiveram e estão em uso, em alguns contextos mais do que em outros, e muitas vezes cultivadas nos jardins ou hortas próximos das nossas casas, perto da convivência e à mão, quando é o caso de utilizá-las como chá, aromatizante ou tempero, entre outras possibilidades.

Em seguida, a proposta foi colocar em prática o que havia sido compartilhado. As participantes foram divididas em duplas de pessoas que não se conheciam. A partir de então, elas teriam algum tempo para compartilharem os próprios nomes, conectarem-se pelo olhar durante um minuto, realizarem uma troca de bênçãos e, por fim, trocarem um abraço de despedida. Para encerrar o encontro, a roda se fez novamente para a partilha das experiências e as sensações proporcionadas pela atividade, encerrada com uma ciranda.