“Para começarmos o nosso atendimento, por favor, responda a este questionário: Nome? Idade? Cor preferida? Estado civil? Uma palavra? O que é liberdade pra você? Do que você tem saudade? Uma bola de sorvete ou duas? Ruth ou Raquel? Elsa ou Ana? Hábito intestinal, bolinha ou cobrinha? Sonhos? Praia ou montanha? O que aconteceu ontem na novela? Rider, Havaiana ou Ipanema? Ovo estalado, frito ou cozido? Tô pensando em sair pro carnaval… tem alguma sugestão de fantasia?”

Com essas e outras perguntas divertidas as enfermeiras-palhaças Matilda e Julieta se aproximaram das pessoas que circulavam pelo CCBB RJ no dia 15 de fevereiro, Dia Internacional de Luta Contra o Câncer Infantil. Vividas pelas artistas Letícia Medella e Juliana Cardoso, a dupla de palhaças tem origem no Programa Enfermaria do Riso da UNIRIO, um projeto de extensão e pesquisa universitária dedicada à palhaçaria em hospitais, criado e coordenado desde 1998 pela professora Ana Achcar.

Nariz vermelho, estetoscópio, jaleco, sapato de palhaço e muita presença!

Durante a atividade, as pessoas que ocupavam o prédio do CCBB RJ rapidamente se identificaram com o nariz vermelho, reafirmando o palhaço como figura que habita o imaginário coletivo. Idosos, jovens e crianças se entregaram e acompanharam a dupla em suas consultas pelo prédio. Entre uma risada e outra, todos se envolviam na proposta e se deixavam afetar pelas ações espontâneas, pelas músicas, pelo convite a observar o outro e a si próprio. O palhaço é um ser dilatado: sem medo do ridículo, agrega ou mesmo repele com uma intensa humanidade. E à medida em que atua como um espelho ou ainda uma lente de aumento sobre a sociedade, o público dificilmente não se identifica com seus comportamentos tão familiares quanto surpreendentes.

Presenciar, num primeiro momento, algumas pessoas ainda sisudas e logo em seguida perceber que se rendiam e desmanchavam em sorrisos largos, clamando por Matilda e Julieta.Testemunhar crianças que deixavam seus pais e seguiam as palhaças, forjando sintomas ou assumindo o papel de enfermeiras em um jogo de imaginação e afeto, nos fazendo vislumbrar quão potente é a relação direta da palhaçaria com os mais diversos públicos. Ao longo de toda a atividade, que durou quase duas horas, Matilda e Julieta mantiveram o jogo vivo e o corpo atento às sutilezas do espaço e do público.

Em um jogo de improviso e cumplicidade, Matilda e Julieta abordaram um tema delicado e necessário: o câncer infantil. Além de provocar o riso, conseguiram tratar com comicidade a doença, ao mesmo tempo amenizando os efeitos físicos e emocionais que acometem os pacientes e colaborando para o processo de conscientização em espaços não hospitalares.

Palhaços ancestrais

Benjamim de Oliveira, Arrelia (Walter Seyssel), Carequinha (George Savalla), Xuxu (Luiz Carlos Vasconcelos), Bozo, As Marias da Graça ou Doutores da Alegria são algumas referências de palhaços ou grupos de palhaços que atuaram ou atuam pelo Brasil afora levando alegria. Além desses nomes mais conhecidos, muitos e muitas artistas também se dedicam à mesma arte, seja em circos, teatros, semáforos ou mesmo em hospitais.

Durante um longo período, a figura do palhaço foi associada ao circo, mas com o passar do tempo ganhou espaço, ocupou os teatros, as telas de televisão, o cinema e as redes sociais. O jogo de improviso entre os palhaços Branco e Augusto sempre surpreende e encanta, perdurando no imaginário de gerações e assumindo diferentes facetas: há espaço para o ingênuo e o infantil, o aterrorizante e o debochado, o crítico e o sarcástico, tendo sempre o riso como instrumento para tocar em temas por vezes extremamente sensíveis.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), muitos jovens entre 1 e 19 anos são assolados pelo câncer infantil, o que reafirma a importância de se conscientizar a população, estimulando diagnósticos e tratamentos. Ao mesmo tempo, inúmeras pesquisas indicam como o riso é benéfico para a saúde, e de igual modo como encarar a realidade com comicidade fortalece o espírito e a imunidade.