A cada nova exposição que entra em cartaz, o Programa CCBB Educativo – Arte & Educação oferece a professoras e professores de escolas públicas e particulares a oportunidade de conhecer, em primeira mão, os múltiplos conteúdos relacionados a cada programação, assim como os convites à ativação e os espaços de convivência desenvolvidos pelo programa. A partir dessas visitas, os profissionais se preparam para retornar, mais adiante, com suas turmas de estudantes, geralmente buscando articular os conteúdos expositivos com aqueles trabalhados em sala de aula.

Numa tarde de julho de 2019, entretanto, acompanhados pela professora de geografia Helen Soares, um animado grupo de estudantes da Escola Estadual Margarida Brochado chegou ao CCBB BH com um plano que ultrapassava a mera visitação da exposição “Dreamworks Animation”. Inspirada pela própria participação na Semana do Educador há algumas semanas, a professora havia planejado, junto aos estudantes e à equipe do programa, que o espaço de convivência criado para a mesma exposição se converteria, ao longo de algumas horas, em cenário para a apresentação dos trabalhos finais da disciplina.

“Quando eu entrei nessa sala, parece que juntou tudo: eu já tinha participado de uma formação em teatro de sombras, aí juntei o livro, que eu já vinha trabalhando com eles. Tentei unir o que a exposição traz e o que eu pesquiso lá fora, assim como as experiências dos alunos”, resume a professora, que propôs às turmas do oitavo ano a criação de adaptações livres do clássico literário “A Revolução dos Bichos”, de George Orwell, para o teatro de sombras.

Abrem-se as cortinas

Após um típico momento inicial de timidez, quando todas e todos pareciam acanhados por ocupar pela primeira vez um novo espaço, o primeiro grupo de estudantes finalmente se ofereceu para apresentar sua versão da história. “Todos são iguais entre si, mas alguns são mais iguais do que outros”, proclama o narrador da história, fazendo ecoar a voz do autor britânico. Com muitas entradas e saídas de personagens, a narrativa incluiu uma eleição realizada entre os bichos dentro de uma granja, assim como o momento em que os porcos, vencedores do pleito, se mudam para a casa grande.

O segundo grupo, por sua vez, chamou atenção pela quantidade de participantes em cena, trazendo muitas mãos e braços incluídos em cada passagem da história. “Nós somos explorados, ganhamos pouca comida e, no final, somos mortos”, clamavam os personagens, cansados de servirem aos humanos. Ao final da apresentação, o público foi surpreendido com uma imagem que já não remetia aos animais de antes, mas às letras que integram a palavra “fim”.

Um clima bastante descontraído marcou a apresentação do terceiro grupo, com direito a muitas risadas dentro e fora da cena durante a leitura dos dez mandamentos criados pelos bichos em revolução. Entre as reivindicações em questão, estaria os direitos à alfabetização e aposentadoria para os animais. E dessa vez o letreiro de fim foi substituído por um descontraído “hang loose”, deixando evidente o bom humor do conjunto.

O último grupo de estudantes, por sua vez, propôs ao público um tom mais sério ao traduzir o clássico de Orwell. Iniciado com um prólogo que contextualizou o público em relação à situação precária enfrentada pelos animais, a adaptação foi marcada por denúncias contra o regime de exploração, assim como a proposição de novos pactos entre os seres vivos: “Nenhum animal matará outro em excesso”, pudemos ouvir, a certa altura.

Encerradas com uma forte salva de aplausos, as apresentações foram seguidas de uma breve conversa entre a professora Helen e sua turma. Junto ao grupo de educadores e educadoras que acompanharam a ação, todos e todas buscaram estabelecer relações entre a exposição “Dreamworks Animation” e o processo de criação vivido pelos estudantes, ressaltando, por exemplo, as diversas etapas e os numerosos profissionais envolvidos a cada produção de um novo filme de animação. 

Já bem mais à vontade naquele espaço que haviam acabado de conhecer, os convidados deixaram, após algum tempo, a sala, não sem a promessa – e o declarado desejo – de retornar em uma próxima exposição.